Breve história do MMA – Mixed Martial Arts
O Mixed Martial Arts, conhecido apenas por MMA, é hoje o esporte que
mais cresce no mundo. Considerando-se que o MMA moderno teve origem no final
dos anos 90 e início dos anos 2000, é absolutamente espantosa a forma meteórica
através da qual se deu o crescimento do esporte. A maior organização de MMA do
planeta, o Ultimate Fighting Championship (UFC), realizou seu primeiro evento
em 1993 e hoje em dia já é avaliada em mais de 1 bilhão de dólares.
Assim, motivado pelo crescente interesse gerado pelo esporte,
resolvi fazer minha estreia no PapodeHomem contando brevemente como o MMA
chegou até aqui, partindo desde os primórdios do esporte e apontando os
principais fatos que ajudaram a tornar o esporte um fenômeno de receitas nos
Estados Unidos.
Desafios entre estilos e o nascimento do Vale-Tudo
Os primórdios do Vale-Tudo ocorreram no Brasil desde a década de 30,
graças aos irmãos Carlos e Helio Gracie. Responsáveis pela disseminação do
jiu-jitsu no Brasil e na época residentes no Rio de Janeiro, os irmãos
desenvolveram o hábito de desafiar mestres de outras artes marciais para lutas
sem regras e sem limite de tempo como forma de provar a superioridade do
jiu-jitsu sobre outras especialidades e, assim, chamar a atenção da população
em geral para a modalidade.
Uma das maiores lutas da fase anterior ao Vale-Tudo ocorreu – pasmem
– no estádio do Maracanã, entre Helio Gracie e o judoca Masahiko Kimura. A luta
foi vencida pelo japonês, que quebrou o braço de Gracie ao aplicar uma chave
conhecida como ude-garame invertido. A técnica foi posteriormente incorporada
ao jiu-jitsu e hoje em dia é mundialmente conhecida apenas como “Kimura”.
A tradição dos desafios entre modalidades perdurou durante muitos
anos, sempre envolvendo o jiu-jitsu, representado agora não só pela segunda
geração da família Gracie, mas também por alunos graduados pela família Gracie.
Pode-se dizer até certo ponto que a origem do Vale-Tudo se deu principalmente
entre a ferrenha rivalidade entre o jiu-jitsu e a luta livre.
Campeões das duas artes duelaram durante anos, não apenas dentro dos
ringues, mas muitas vezes nas próprias ruas do Rio de Janeiro, como a famosa
briga entre Rickson Gracie e o campeão de luta livre Hugo Duarte, na praia do
Pepê. Como evento de maior expoente dessa rivalidade, temos o Desafio Jiu-Jitsu
vs Luta Livre, ocorrido em 1991, com cobertura da Rede Globo. Três
representantes do jiu-jitsu enfrentaram três representantes da luta-livre, com
o jiu-jitsu conquistando todas as vitórias.
O nascimento do UFC
Antes de tratarmos da origem do UFC, é necessário fazer uma pequena
parada no Japão. Enquanto os desafios entre modalidades de luta ocorriam no
Brasil, no Japão também ocorria um movimento em direção a uma modalidade de
luta que integrasse os mais diversos estilos de luta.
Como se sabe, o Japão sempre teve forte tradição no pro-wrestling
(em outras palavras, a luta livre “de mentira”). Liderados por expoentes do
pro-wrestling, como Akira Maeda e Masakatsu Funaki, os japoneses começaram a
organizar lutas com a possibilidade de técnicas reais de submissão e, posteriormente,
no início dos anos 90, Funaki fundou o Pancrase, organização de lutas que
permitia golpes com a mão aberta e chutes quando ambos lutadores estivessem em
pé.
As realidades brasileira e japonesa se chocaram na primeira edição
do UFC, em Denver, nos Estados Unidos, no dia 12 de novembro de 1993. Uma das
semifinais do evento se deu entre Ken Shamrock, campeão do Pancrase, e Royce
Gracie, um dos expoentes do Gracie Jiu-Jitsu, com o segundo sendo o vencedor e
se consagrando o campeão do evento apos mais uma luta.
O UFC, diga-se de passagem, foi uma idéia de Rorion Gracie para
divulgar e promover o jiu-jitsu nos Estados Unidos. A intenção de Rorion era,
na verdade, mostrar o jiu-jitsu como arte marcial mais dominante e, assim,
atrair a atenção de novos alunos.
O objetivo foi atingido com pleno êxito. Royce Gracie se sagrou
campeão de três das primeiras quatro edições do UFC, fracassando apenas na
terceira edição, quando não pode voltar para a segunda luta após vencer Kimo
Leopoldo numa batalha brutal. O jiu-jitsu representado por Royce, entretanto,
havia plantado a semente para se disseminar por toda America.
A idade das trevas do UFC
Embora o UFC tenha atingido algum sucesso no início de sua
existência, muitos problemas apareceriam nas próximas edições e tornariam a
vida da organização muito difícil. A final do UFC 4, por exemplo, ultrapassou o
tempo designado para o pay-per-view, impossibilitando aqueles que compraram o
evento de assistir ao final da luta entre Royce Gracie e Dan Severn, vencida
por Royce após mais de 15 minutos ininterruptos de batalha.
Além disso, a brutalidade dos eventos iniciais do UFC gerou reação
negativa de alguns segmentos da sociedade norte-americana, fazendo com que
alguns estados da federação simplesmente banissem eventos de Vale-Tudo de seus
territórios. O UFC 10, por exemplo, marcado inicialmente para ser realizado em
Providence, Rhode Island, próximo a Nova York, foi proibido apenas um dia da
data marcada para o evento, fazendo o Semaphore Entertainment Group, grupo dono
do UFC na época, fretar um avião de última hora e realocar todo o evento para
Birmingham, Alabama.
Um dos maiores combatentes do UFC foi o então senador pelo Arizona
John McCain (aquele mesmo, duas vezes candidato a presidente dos EUA), que
chegou a classificar o UFC como uma “briga de galo entre homens”. A atuação de
McCain junto às comissões atléticas dos estados americanos foi fundamental para
o banimento do UFC na maioria dos estados. O UFC passou a ser um esporte do
gueto, sustentado basicamente por fãs que trocavam informações e vídeos das
lutas em fóruns específicos na Internet.
Além disso, o surgimento e crescimento do Pride, no Japão, começou a
levar os melhores lutadores embora do UFC. O Vale-Tudo não enfrentava no Japão
a oposição encontrada nos EUA. Pelo contrário, a cultura japonesa sempre
valorizou as artes marciais, tornando quase toda sua população admiradoras da
lutas e seus praticantes.
Assim, além de bolsas muito melhores do que as do UFC, os lutadores
tinham também a possibilidade de ganhar muito dinheiro fazendo merchandising de
produtos no mercado japonês. Lutadores como Wanderley Silva, Mirko “Cro Cop” e
Kazushi Sakuraba, lutadores do Pride durante o ápice da organização, até hoje
são considerados ídolos no país. Relegado a pequenos guetos e perdendo seus
melhores lutadores para o mercado japonês, o futuro do UFC não parecia nada
promissor.
Mixed Martial Arts e a explosão do UFC nos Estados Unidos
O primeiro passo para o renascimento do UFC foi a busca pela
regulamentação do esporte pelas comissões atléticas norte-americanas. A
primeira comissão atlética a regular o esporte foi a comissão atlética de New
Jersey. A partir de então, aboliu-se o nome Vale-Tudo (“No Holds Barred”, usado
nos EUA), posto que o nome gerava uma ideia demasiadamente violenta do esporte,
agora chamado de Mixed Martial Arts.
A comissão foi responsável pela grande maioria das regras presentes
no MMA atual. A partir dessa regulação, o UFC foi atrás das comissões atléticas
dos outros estados já com as regras aprovadas em New Jersey. Atualmente,
essas regras são conhecidas como “Unified Rules”, posto que elas foram adotadas
na grande maiorias dos Estados, com exceção de pequenas diferenças aqui e ali.
O primeiro evento realizado sob as novas regras foi o UFC 28, em Atlantic City. Entretanto,
o Semaphore Entertainment Group estava enterrado em dívidas em razão do UFC e,
pouco antes do UFC 30, vendeu a organização para a Zuffa LLC, empresa formada
pelos irmãos Frank e Lorenzo Fertitta, donos de alguns cassinos em Lãs Vegas, e Dana White,
amigo de adolescência dos Fertitta e até então empresário da maior estrela do
UFC na época, o meio-pesado Tito Ortiz. Dana White também era empresário do
futuro campeão e maior estrela do MMA mundial, o também meio-pesado Chuck
Liddell.
Sob o comando da Zuffa, o UFC começou a realizar eventos em
pay-per-view e, embora obtendo relativo sucesso se comparado a SEG, ainda assim
não conseguia dar lucro aos proprietários. Os irmãos Fertitta, proprietários de
90% da marca, continuavam a colocar o próprio dinheiro no evento para mantê-lo
funcionando. Isso ocorreu até o UFC 44, quando os gastos se tornaram grande
demais e eles deram o aval para que Dana White, então presidente do UFC e com
apenas 10% das ações, procurasse um comprador para o evento.
Dana White procurou alguns compradores para o UFC, mas sem nenhum
sucesso. Então, resolveram dar uma última cartada e apostar em um reality show
chamado The Ultimate Fighter, em parceria com o canal americano Spike TV.
Basicamente, o reality show consistia em colocar 16 lutadores de duas
categorias de peso diferentes que se enfrentariam até que um campeão fosse
obtido em cada categoria. Os campeões seriam então premiados com um contrato
com o UFC num valor superior a US$ 100.000,00.
A transmissão das lutas finais se deu em 9 de abril de 2005. Diego
Sanchez se sagrou o campeão dos pesos médios, mas a grande surpresa da noite
ainda estava por vir. Em uma luta absolutamente franca e emocionante, Forrest
Griffin e Stephan Bonnar deram um grande show de raça e trocaram golpes nos
três rounds, com Forrest Griffin se sagrando o campeão.
Tamanha a disposição mostrada pelos lutadores, o UFC resolveu
premiar ambos com um contrato. Como foi transmitida gratuitamente pela Spike
TV, a luta conseguiu audiência nunca antes atingida pelo UFC, aumentando
imediatamente o interesse pelo esporte nos Estados Unidos. Dana White e os
irmãos Fertitta até hoje definem a primeira luta entre Forrest Griffin e
Stephan Bonnar como a luta que salvou o UFC da falência .
Após o sucesso da primeira temporada, o UFC passou a crescer
exponencialmente, batendo todos os anos o recorde do número de eventos vendidos
no pay-per-view. A escalada nas vendas culminou no UFC 100 que, com duas lutas
de título marcadas no card, bateu a marca de1.5 milhões de vendas.
Ao mesmo tempo que o UFC crescia desenfreadamente, o Pride passava
por uma crise financeira no Japão e as suspeitas de envolvimento com a Yakuza
afastavam cada vez mais os investidores e as emissoras de televisão do Pride.
Em março de 2007, a
Dream Stage Entertainment Inc., proprietária do Pride, anunciou a venda da
organização para a Zuffa. Por conta dessa compra, lutadores como Antônio
Rodrigo “Minotauro” Nogueira, Wanderlei Silva, Mauricio “Shogun” Rua, Mirko
“Cro Cop” e Dan Henderson passaram a integrar as fileiras do UFC, consolidando
a posição da organização como a maior promoção de MMA do mundo e acabando com
qualquer dúvida sobre onde se encontravam os melhores lutadores do mundo
Com o crescente sucesso, muitos dos lutadores do UFC acabaram
fazendo o chamado “crossover” para o mainstream americano. Chuck Liddell,
ex-campeão dos meio-pesados, já apareceu em série famosas como Entourage e
Dancing with the Stars. Randy Couture, 5 vezes campeão no UFC, tem um papel no
próximo filme de Sylvester Stallone.
Atualmente, o UFC é a maior organização de lutas do mundo e está
avaliado em
aproximadamente US$ 1 bilhão de dólares, tendo recentemente a
quota de 10% para a Flash Entertainment, empresa de propriedade do Sheik
Tahoon, de Abu Dhabi, pela módica quantia de US$ 100 milhões de dólares.
Fonte: papodehomem.com.br
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